Punha-se nua e nem àquela a quem se despia seu corpo se evidenciava. Era invisível, como uma fina lasca de cristal pela qual se podia ver o outro lado; dentro dele o aparente vazio e a transparência quase pura denunciavam a fragilidade do que fora intocado. Imaculada esgueirava os olhos pela fresta entreaberta da porta, ameaçava sair, mas suas pernas inertes enraizavam ao rangido velho do assoalho, vinha a tempestade e silenciava o fecho de luz que trazia lá de fora o mundo. O escuro e o silêncio eram a calma desesperada do que gritava nela, engolindo cada um de seus pensamentos e atirando pra longe, tão distantes quanto podiam até perder-se de si. Perdia a força e a voz, os fortes ventos chacoalhavam cada porta e janela, os estilhaços do que se destruía atingiam-lhe os olhos e rasgando a pele a dissolviam lenta e dolorosamente. Ainda assim, não se podia vê-la.