
Vinha caminhando pela rua, sob meus pés a água avançava pesada e turva. A chuva ameaçava - sem vontade - cair outra vez, o mesmo olhar acanhado de sempre; Eu seguia, tão pequena. Olhava em volta e ao redor o medo abria aquele sorriso sarcástico, oferecendo-me o calor do seu infame abraço, ainda assim ansiava o arrepio que me percorria, daquele pouquinho dela que me foi concedido... não havia provado nada mais tentador antes.
Ela vinha devagar, tocando-me os lábios, pra que entre lágrimas eu lhe sorrise; O frio cortava a pele, sentia o sangue escorrendo entre os dedos, e a paixão dos seus beijos me arrancava os pedaços, cada gota caindo parecia uma presa a me agarrar... mas é sempre tão doce lhe pertencer.
Ela me tinha com tanta força e vontade que não percebia sequer o quão insignificante eu era diante da sua imponência, quanto mais eu me entregava, mais intensa despencava do céu, tomava tudo que estivesse ao alcance. Eu já perdera os sentidos e me arrastava silenciosa no escuro daquelas águas. Resignada de sua timidez, ela reluzia sonoramente pelo céu, as nuvens densas de sua presença se amontoavam, era a mais intensa tempestade que eu já houvera conhecido. Cada explosão de sua fúria me atirava aos braços do meu algoz enquanto me desvencilhava da aparente segurança, relutante, apaixonada.
Suas lágrimas pareciam curar cada corte de seus rompantes enérgicos, eu me agarrava a ela como se nada mais fizesse sentido, não podia temer, sabia que em breve a tempestade passaria e precisava curar-me antes do estampido seguinte.
O amparo continuava a sorrir-me com ironia, se me tocasse, eu sabia, me levaria pra muito longe dela; Pra mim, era mais seguro correr riscos.
"São tão contraditórias as flores..."
Comentários
Postar um comentário