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Fila de espera.


A que ponto podemos chegar por alguém?
Diante dos últimos acontecimentos eu tenho refletido sobre aquela velha máxima popular de que nunca amamos quem merece, ou alguma coisa assim. A verdade é que tenho tentado bravamente me apaixonar por mim mesma; O problema é que geralmente apaixonar-se pelo seu eu mais verdadeiro, e ter convicção no que você é envolve abrir mão de um bocado de coisas que às nossas mentes pequenas parecem muito interessantes.
Aqui estou eu sentada outra vez em frente a uma folha branca sem saber o que dizer. Logo ali, perto de mim uma garotinha me olha com um ar de preocupação e ansiedade; Ela sabe que posso vê-la, mas ainda assim tenta entender porque não a encaro mais como antigamente.
Ah, pequena, como queria poder te chamar e ter de volta tudo aquilo que deixamos pra trás, mas você sabe, não é? Sabe que não posso mais me permitir certas coisas... Existem coisas que a gente deve fazer sem jamais entender muito bem o porquê... todos eles agora me espiam pelos cantos escuros da casa, das ruas, no banco de trás dos carros... Só o que posso fazer é falar sozinha, falo só, na esperança de que eles me ouçam e entendam... A que ponto sou capaz de chegar por mim mesma? De quantas coisas mais terei que abrir mão pra conseguir ir em frente...?

Você precisa crescer, ela disse - Achei graça. Crescer? Adoraria crescer, adoraria me sentir pronta e forte o bastante para caminhar sozinha, para tomar decisões, para conseguir suportar ao menos o peso dos meus próprios pensamentos... A graça é que ela nem sabe pra onde vai, nem mesmo o que quer... É só uma menina tentando parecer adulta, escondida em um corpo de mulher, fingindo que sabe o que faz; Como se eu não soubesse...

É engraçado perceber que só pra mim o tempo faça tanta diferença; Talvez porque poucas pessoas saibam quanto tempo ainda lhes resta; E quanto mais ele passa mais desesperadamente eu tento encontrar aqui dentro alguma coisa que ainda faça valer a pena, alguma coisa que me faça querer lutar com mais força. Ver o relógio correndo e saber que você não pode alcançá-lo é algo que realmente assusta.
Não tenho medo da morte. Ainda me lembro bem da ultima vez que aconteceu; É rápido, não sentimos dor alguma, basta sabermos fechar os olhos e esperar, logo logo eles se abrem em outro lugar. Consigo lembrar como se fosse ontem; Só consegui mesmo foi ouvir o barulho, porque quando aquele pedacinho de metal entrou pela pele eu já não estava mais lá. Acho que é a vantagem de sabermos morrer, tudo acontece muito rápido e é mais fácil do que muita gente imagina.
Não, eu realmente não tenho medo da morte, mas saber quando e como ela vai chegar, e saber com tanto tempo de antecedência é o que assusta. Nunca tive, aliás, medo de morrer de repente, como já aconteceu antes... O que me assusta é esperar, esperar que ela venha te buscar sutilmente, esperar que os dias se arrastem sem que você faça nada pra mudar. A verdade é que não podemos mesmo fazer com que nada melhore. É isso, não quero nem nunca quis envelhecer e esperar a morte; É uma pena que em algumas experiencias precisemos passar por isso.
Saber demais, saber o que ninguém mais sabe; Quem disse que isso é uma coisa boa? Não poderia ser, de maneira alguma. A cegueira do humano é sua maior arma contra as dores do mundo.
Acabo se sentir aquele empurrão nas costas outra vez. As horas nos avisam a todo tempo que estão passando por nós, e é inutil tentar parar pra entender. É preciso ir em frente, é preciso deixar-se levar e não esperar demais. Enquanto isso, continuo buscando encontrar o amor, o amor que tenho por mim mesma e que não é por mim correspondido.

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