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Sempre gostei, sem saber o porquê, de casas com forro velho de madeira, daqueles com cara da casa da vó... Na minha era diferente, até foi madeira, um tempo, mas tinha aquele ar moderninho, a arquitetura extravagante que não me aquecia com aquela alergia nostálgica que as coisas antigas me trazem.
Agora era outro o cenário, o sobradinho que eu sempre quis, mas que não era meu, nem era meu o lugar que eu queria ali. Eu me conformava, dizem, me calava e galgava os degraus gelados de concreto.
Aquele quarto era frio demais. Aliás, aquela era a única parte de toda a casa que mantinha tão fria sua estrutura - disseram também que ali, onde eu dormia, fora um dia a casa toda, aquele gelado cubículo de cimento e pó.
Me encolhia sob a pilha de cobertores, mas a frigidez que me cortava a pele não estava no ar, vinha de dentro pra fora, e de tanto que queria sair, brotava em lágrimas - curioso - quentes. Cada movimento no andar de cima, faria ranger todo o resto.
Ao longo da noite todo o sobrado estalava, do solo ao teto, parecia chacoalhar no vento que eu podia ouvir pelas frestas, e vez ou outra era tão intenso esse som que cheguei a crer ouvir passos, passos que lentamente desciam as escadas... O coração acelerava de excitação e medo, era sombrio e escuro demais meu leito. Espreitava qualquer presença surgindo por entre as dezenas de livros que se empilhavam pelas paredes e no fundo, conseguia me convencer sempre de que ela surgiria ao pé do ultimo degrau, aproximando-se timidamente do meu colo até adormecer ali, para que a aurora nos viesse beijar, enfim juntas.
Era o vento, era só o vento a arrastar minhas fantasias pra longe.

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